Rita Pavone 25 July 1964 in Copacabana, Rio de Janeiro.
Chuva atrapalha o show que Carlos Imperial organizou em frente à TV Rio, em Copacabana, para badalar a ida de Rita Pavone à emissora, em 1964.
Trecho do livro 'Minha fama de mau', de Erasmo Carlos,
lançado pela Editora Objetiva em 2009, no qual Erasmo conta sobre um show impromptu que foi organizado por Carlos Imperial
para saudar a passagem de Rita Pavone pelo Rio de Janeiro em 25 Junho 1964.
A chuva
atrapalhou o show que Carlos Imperial organizou em frente à TV Rio, em Copacabana,
para badalar a ida de Rita Pavone à emissora, em 1964. A ideia era, no dia da
apresentação da cantora na TV, reunir uma multidão na rua, parando a cidade e
impressionando os jornais. Um evento dispensável, afinal a cantora-fenômeno já
era mais que badalada por si só. Não se falava de outra coisa. No rádio, nas
festinhas e nos bailes, seus sucessos 'Datemi un martello' e 'Cuore' tocavam mais
que 'Parabéns a você'. Seus clones se multiplicavam – cabelos curtos, botinhas,
camisa branca de mangas compridas, calça preta e o indefectível suspensório.
Mas, como a
cúpula da TV Rio pediu que Imperial se virasse para fazer algo que chamasse
mais a atenção para Rita, ele correu atrás. Eu estava de bobeira em minha casa
na Tijuca quando o telefone tocou. Era ele, gritando: - Figura,
larga o que estiver fazendo e vem para a TV Rio agora! Telefona para quem você
puder e manda todo mundo vir para cá para um grande show. Simonal e Marcos
Moran já estão comigo.
Liguei para
alguns amigos e saí a jato. Quando cheguei à emissora, logo ao saltar do táxi,
já fui envolvido pela multidão. Imperial, nervoso, dava ordens aos berros,
tentando organizar a bagunça. Aos poucos, os artistas foram chegando: Cleide
Alves, Golden Boys, Trio Esperança, Roberto Rei (autor da adaptação do velho sucesso 'Ol' Man Mose' de Louis Armstrong 'História de um momem mau', sucesso com Roberto Carlos), Amilton, Selmita, Tony Checker e Gerson Combo entre outros.
O cast foi
se encorpando, a aparelhagem foi ligada, a câmera colocada num lugar
estratégico e, exatamente às 18h, começou o show no palco armado em frente à TV
Rio. Enquanto a apresentação rolava, as pessoas que passavam por ali paravam
curiosas para ver o burburinho, sem a mínima noção do que se tratava – como
tudo foi feito na pressa, não havia cartazes pela cidade ou anúncios nas
rádios. Com o acúmulo de gente, o trânsito também parou e começou o buzinaço.
Em pouco tempo, o Posto 6, em Copacabana, já abrigava uma multidão.
Como tudo
foi improvisado e a transmissão era ao vivo, às vezes entravam os comerciais com
alguém ainda cantando e, quando voltava a aparecer o palco, a música já tinha
acabado.
Uma chuva
fininha começou a cair, causando certa apreensão. Mas mesmo com a garoa e sem a
presença de muitos artistas, que estavam fora do Rio ou não foram encontrados,
Imperial se saía bem. Apresentava os que chegavam, entrevistava o povão e
convocava as pessoas para imitar a dança característica da Rita.
Na minha
hora de cantar, não fiz por menos e entrei todo pimpão quando a banda atacou 'Terror dos namorados'. A emoção de quem está lançando uma música nova tomou
conta de mim. Vibrava a cada compasso e a cada virada de bateria. Na parte da
música em que a banda para, deixando soar os acordes para eu cantar “ eu beijo,
beijo, beijo, beijo, beijo, beijo, beijo, beijo, beijo ... ” , o público foi à
loucura, gritando sem parar. Confesso que me surpreendi com a reação e pensei
comigo: “Caramba, estou agradando em cheio. O povo está gostando! Vou dar mais
de mim.”
E dei. A
visão dos pingos da chuva caindo sobre o facho de luz dos refletores, em
contraste com o escuro do céu, tornava aquela demonstração de carinho
emocionante para um iniciante como eu. A galera continuou pulando e me
ovacionando cada vez mais. Agora também de braços erguidos, me saudando
calorosamente.
De repente,
caí do meu deslumbramento e despertei daquele sonho. Notei que os olhares, os
aplausos e os acenos não eram para mim. E sim para alguém que estava no terraço
da emissora. Virei meu pescoço num gesto brusco, olhei para o alto e vi,
cercada pelo seu staff, a figura mignon de Rita Pavone, sorrindo e mandando
beijinhos para a multidão ensandecida.
Anos mais
tarde, em 1970, já famoso, a encontrei num show de Jorge Ben numa boate em São Paulo.
Brinquei com ela:
- Você lembra de mim naquele show de 1964, na
porta da TV no Rio de Janeiro?
Após sua
negativa, respondi:
- Eu era um pingo da chuva que molhou você.
Erasmo Carlos earlier in his career... and his 2009 memoires 'Minha fama de mau'.
Erasmo Carlos had been an early Rita Pavone connoisseur when he translated 'Alla mia età' for Denise Barreto's RCA single 'Na minha idade'.
Rita sings at TV Rio in 1965 less than a year later...
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